quinta-feira, 29 de maio de 2014

PEDRO GIUSTI, A OBRA E O AMIGO # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

NOTÍCIA SOBRE PEDRO GIUSTI 

( Este texto abaixo se refere à abertura da página que criei no LETRAS TAQUARENSES, para publicar a poesia do PEDRO GIUSTI.)

*
             PEDRO GIUSTI É, ANTES DE MAIS NADA, MEU AMIGO.  NOS CONHECEMOS NO TEMPO EM QUE EU TRABALHEI NA BANCA DE JORNAL DO CRUZAMENTO DAS RUAS DOS INVÁLIDOS COM VISCONDE DE RIO BRANCO E CAMPO DE SANTANA. ALÍ PASSEI TRÊS ANOS MARAVILHOSOS DE MINHA VIDA. E, ALÉM DELE, CONHECI O PRODUTOR E PROFESSOR DE TEATRO CLAUDIOMAR CARDOSO CARVALHAL, QUE TRABALHAVA TAMBÉM COM DUBLAGEM E QUE CONVIDOU-ME A "FAZER TEATRO". A EXPERIÊNCIA VALEU APENA. DEPOIS SEGUI POR CONTA PRÓPRIA, CONVENCIDO QUE AINDA ESTOU DE QUE TEATRO É BRECHT/BOAL/AMIR ADAD...E NUNCA MAIS PAREI.
            MAS O PEDRO GIUSTI É MAIS MARCANTE EM MIM DESDE AQUELA ÉPOCA. FOI ELE QUE INTRODUZIU-ME NO CAMINHO DAS FORMAS FIXAS DA POESIA E ENSINOU-ME TROVA, SONETO ETC, EMBORA EU NÃO O RESPONSABILIZE PELO QUE EU FAÇO. É QUE APRENDI A NÃO SER DISCIPLINADO... E CREIO QUE ELE GOSTA DISSO  LÁ  DO ALTO DE SEU "TRONO" ANARQUISTA!

            COMO EU NÃO TENHO FOTO DO PEDRO, VOU DESCREVÊ-LO PARA QUE TODOS POSSAM  TER UMA IDEIA DA FIGURA. O PEDRO É BRANCO LOURO DE OLHOS AZUIS, UM METRO E OITENTA MAIS OU MENOS, MUITO FORTE, DEVIDO À VIDA DE MARUJO NA MARINHA MERCANTE, ERA CALVO NA PARTE SUPERIOR DO CRÂNIO E O CABELO LATERAL GRANDE, O SUFICIENTE PARA FAZER "RABO DE CAVALO", USAVA SEMPRE CAMISA BRANCA DE LINHO, CALÇAS DE LINHO NA MAIORIA DAS VEZES BRANCA TAMBÉM; "VÍCIO DA MARINHA" SEGUNDO ELE, GOSTAVA DE ANDAR DE CHINELO E, DEVIDO A UMA APOSENTADORIA "CONSISTENTE", ERA BASTANTE BOÊMIO. Ah, NÃO REPETIA "PARCEIRAS" E ERAM SEMPRE JOVENS. ADORAVA CERVEJA PRETA E COMO EU SÓ CONHEÇO UMA MARCA, SÓ BEBÍAMOS "BLACK PRINCESS". O PEDRO NASCEU NO MARANHÃO E SAIU DE LÁ PARA SE ALISTAR NA MARINHA, NUNCA MAIS VOLTOU A MORAR NO SEU ESTADO, MAS CONHECIA PROFUNDAMENTE A CULTURA NORDESTINA, O QUE CONTRIBUIU DEMAIS PARA O MEU CRESCIMENTO INTELECTUAL, UMA VEZ QUE  "FALCUDADE" NENHUMA TRABALHA CULTURA POPULAR. SE NÃO FOSSE O PEDRO E O MEU MESTRE DO GRUPO DE TEATRO, EU SERIA APENAS UM MINEIRINHO ABESTADO.  EU E O PEDRO NOS APROXIMAMOS DURANTE A DITADURA MILITAR, DEBATENDO AS MATÉRIAS DOS JORNAIS DE OPOSIÇÃO, COMO OPINIÃO, MOVIMENTO,COOJORNAL, VERSUS, COMPANHEIRO ETC, E NISSO NOS TORNAMOS  "CAMARADAS": ELE ANARQUISTA E EU MARXISTA. IMAGINA!!  MAS DE TUDO FICOU UMA PRODUÇÃO POÉTICA NADA DESPREZÍVEL, QUE INCLUI ALGUNS POEMAS LIVRES E CEM TROVAS. LEIAM A SEGUIR.  ALÉM DE POETA, O PEDRO ERA COMPOSITOR E TINHA PARCERIAS COM UM MÚSICO MARANHENSE CHAMADO LUIZ VIEIRA, QUE ESTOU BUSCANDO INFORMAÇÕES SOBRE O MESMO. AH, EU IA ME ESQUECENDO DE FALAR SOBRE A IDADE DO PEDRO; EM 1976, ELE TINHA 75 ANOS. A PARTIR DE 1980, NÃO NOS VIMOS MAIS, ATÉ AGORA 05 DE JANEIRO DE 2012, MAS ESPERO QUE ELE ESTEJA BEM!!

QUASE COTIDIANO

A MENOS OU A MAIS
DE OITENTA POR HORA
NÃO É O QUE CONTA
NEM É O QUE CANTO.

AQUILO QUE CANTO
AQUILO QUE CONTO
É A CRIANÇA QUE NÃO FRUI
A VIDA QUE FLUI

DO CORPO FRÁGIL
ENSANGÜENTADO
ATROPELADO
NUMA
transIPANÊMICA AVENIDA
COMO VÕO DE PÁSSARO
NOS DIAS SERENOS
A MAIS OU A MENOS
DE OITENTA POR HORA.
EIS AQUI O "FAC SIMILE" DO ORIGINAL DO POEMA ACIMA, REPASSADO A MIM EM MARÇO DE 1978.  COMO PODE SER OBSERVADO, ELE GRAFOU "JIUSTI" COM J.
NÃO SE PREOCUPEM. FAZ PARTE DO "AN-AN-NARQUISMO" DELE.
                                                                          *

BEM / MAL ENTENDIDO


SE EU MURMUO: MEIO-DIA!
VOCÊ ENTENDE: MELODIA.
MUSICISTA.

SE EU LHE FALO: NEM TE FALO!
VCOÊ ENTENDE: METE O FALO!
FEMININA-FEMINISTA.

SE EU LHE GRITO: VIVA GINA!
VOCÊ ENTENDE: VI VAGINA.
NARCISISTA.

SE EU DESEJO: BOA NOITE!
VOCÊ ENTENDE: DOU AÇOITE.
MASOQUISTA.
             *

NÃO VIM SÓ  
(LETRA DE MÚSICA) 
                           PEDRO GIUSTI
                           ANTONIO VIEIRA

QUANDO EU VIM LÁ DE LUANDA
QUANDO EU VIM DE LÁ
NÃO PENSE QUE EU VIM SOZINHO
TROUXE UM ORIXÁ.

ME TROUXERAM PARA ESCRAVO
DO MEU POVO EU ERA REI
A VONTADE É DE VOLTAR
MAS NÃO SEI SE VOLTAREI

QUANDO EU VIM... ( REFRÃO )

EU VIM DE CORPO FECHADO
COM ANGOLA E TERECÔ
A MINHALMA SÓ TEM BANZO
NÃO TROUXERAM MEU AMOR

QUANDO EU VIM... 

                     *

QUILOMBO DOS PALMARES  
(LETRA DE MÚSICA )
                                                         PEDRO GIUSTI
                                                         ANTONIO VIEIRA
QUILOMBO
QUILOMBO
QUILOMBO
DOS PALMARES

QUILOMBO
QUILOMBO
QUILOMBO
SEM PESARES
                  
          QUILOMBO, PRIMEIRO SONHO
          DE LIBERDADE DA RAÇA.
          QUILOMBO NEGRO, TRISTONHO
          FUGINDO À PRÓPRIA DESGRAÇA.

QUILOMBO... ( REFRÃO )

          LUTOU COM FEROCIDADE
          POR LONGOS ANOS DE GUERRA
          SONHANDO COM A LIBERDADE
          QUE TINHA NA SUA TERRA.

QUILOMBO... ( REFRÃO 
                           *
BUMERANGUE

HÁ MUITO TEM-
       PO EU NÃO ME
              VISITAVA.QUAN-
                     DO VOLTEI,  POR
                             POUCO  NÃO   ME
                                      ENCONTREI.TÃO
                                               DIFERENTE  ES-
                                                      TAVA.  EU ERA
                                                             QUASE  UM ES-
                                                             TRANHO  PARA
                                                    MIM.  DA  PRÓ-
                                           XIMA  VEZ  NÃO
                                  DEMORES  TANTO
                          A  VOLTAR   POR-
                  QUE  É  BEM CA-
            PAZ  QUE  EU  JÁ
    NÃO   ME  RECO-
NHEÇA  MAIS.
  *&*
TROVA Nº 2
Existe um mundo de trovas
- grandes jóias miudinhas -
umas velhas, outras novas.
Já não sei quais são as minhas.
*

quarta-feira, 28 de maio de 2014

PEDRO GIUSTI, DEDICATÓRIA # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Ao lado da DEDICATÓRIA, anotei
" Não há livro,
por menor que seja,
que não tenha espaço
para o registro de uma data.
ACF.
E embaixo:
Recebi este livrinho das mãos do autor
no dia 01/04/78
e assinei
Antonio Cabral Filho.
*
Era páscoa e compartilhamos bombons, na banca de jornal, debatendo ABERTURA POLÍTICA no Brasil com os clientes da banca, entre eles o delegado que me ajudaria receber a indenização pelo incêndio da banca logo a seguir. Vale registrar que os INCÊNDIOS DE BANCAS eram uma prática da ditadura contra jornaleiros que vendessem jornais da oposição, bem como livrarias, como é caso da LIVRARIA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, na Rua Sete de Setembro.
*
TROVA Nº 4
Este meu terrível tédio
pouco a pouco se irradia
tomando conta do prédio,
que era todo da alegria.
*

segunda-feira, 26 de maio de 2014

TROVA Nº 10 - TROVADOR PEDRO GIUSTI E OUTROS VERSOS # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

TROVA Nº 10

Para um cavaleiro andante,
nas lutas, nos desempenhos,
melhor ter um rocinante
do que dez mil clavilenhos.
*

TROVA Nº 9 - TROVADOR PEDRO GIUSTI E OUTROS VERSOS # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

TROVA Nº 9

Minha vida é um mosaico
de formato irregular:
Tem moderno, tem arcaico,
tem sombra e luz. Tem luar...
*

TROVA Nº 8 - TROVADOR PEDRO GIUSTI E OUTROS VERSOS # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

TROVA Nº 8

Hoje batem à tua porta.
Tens o brilho dum cometa.
Amanhã, ninguém se "importa"
quando fores pra sarjeta.
*

TROVA Nº 7 - TROVADOR PEDRO GIUSTI E OUTROS VERSOS # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

TROVA Nº 7

As grades das minhas celas
de par em par eu somei,
mas a soma das parcelas
não lembro mais, já não sei.
*

PEDRO GIUSTI: NOTA CLARIFICADORA # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

PEDRO GIUSTI, NOTA CLARIFICADORA
X
X
X
TROVA Nº 3
Sonho errante, vagabundo.
Ambulantes pensamentos
voam, na rosa dos ventos,
pelos quadrantes do mundo.
*

TROVADOR PEDRO GIUSTI E OUTROS VERSOS # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Capa

-Folha de rosro-
TREVO...
TRAVO...
TROVAS.
(Rapsódia em si)

Editora Margem
Rio  -  1978
*
NOTA
****
Publicarei aqui neste blogue, toda a poesia do PEDRO GIUSTI deixada comigo antes dele partir para a ACADEMIA CELESTIAL DE LERAS a fim de garantir meu lugar na fila, pois como "bons brasileiros", sempre daremos um "jeitinho" para garantir nossos privilégios, e, por quê não no céu também. Mas a publicação das poesia do PEDRO GIUSTI será feita diariamente, e espero que DEUS garanta algumas horas extras feitas espontaneamente para que eu publique toda a obra do PEDRO GIUSTI, para deleite nosso e dos aficcionados por trovas e poesias. 

Antes preciso apresentar o PEDRO GIUSTI a você, caro leitor amigo. 
PEDRO GIUSTI é marinheiro, nascido no Maranhão, mais ou menos em 1900-1901, pois em 1976, quando o conheci, ele dizia ter 75 anos. Na época, eu era sócio de uma banca de jornais, na esquina da Rua dos Inválidos com Praça da República, centro do Rio de Janeiro. 

Nossa aproximação se deu através do noticiário cotidiano dos jornais, uma vez que ele vinha à minha banca ler os jornais. Como é costume dos jornaleiros, deixa-se as pessoas à vontade para que elas se atraiam por notícias e acabem por adquirir o jornal. Mas isso nunca aconteceu com o PEDRO GIUSTI: Ele era filão!

Mas era um sujeito bom de prosa. Era muito inteligente, sempre atualizado, e avesso a ditaduras, fosse de esquerda ou de direita, o que causava certo atrito entre nós, devido a minhas simpatias por Chê Guevara, que ele dizia ser o TROTSKI do Fidel Castro. Por isso, nós tínhamos assunto para brigar o tempo todo em torno do pensamento marxista, o qual ele chamava de " escola de ditadores". Com o passar do tempo, conclui que o PEDRO GIUSTI era anarquista, anarquista mesmo, do tipo ateu iconoclasta.

Da política, passamos para as artes, começando por literatura, levando a um aprofundamento da nossa amizade. Como eu escrevinhasse uns versos esquerdopatas, ele começou a indicar-me autores para eu, segundo ele, adquirir base no universo poético e assim, poder escrever com mais consistência. Fiquei brabo com ele, pois pra mim, eu escrevia pacas! Aí, ele começou a mostrar-me TROVAS e me explicou tudo sobre verso-livre e formas fixas, e como eu já tinha estudado um pouco de escala musical, peguei rápido a metrificação, as rimas e os sistemas da trova. 

Nossa convivência se prolongou até 1980, quando me mudei para o município de São Gonçalo, largando a banca de jornais, parando de frequentar o Centro da Cidade e passando a trabalhar com representação comercial na distribuição de livros. Sempre que tinha um tempinho, passava pela Praça Cruz Vermelha, onde ele gostava de sentar-se nos banquinhos com tabuleiro de dama desenhado na pedra para jogar xadrez com seus compas. Ali, tomamos muita Black Princess. Ali, foi a minha faculdade de letras. Digo isto porque no período de 1976 a 1980, passei pela UFF enrolado com direito e comunicação social, sempre muito estimulado por ele.

Deixo aqui a primeira trova do livro acima, feito a mão por ele e dedicado a mim, segundo ele, a única pessoa no mundo com quem ele teve o prazer de concordar e discordar sem inimizade. O livro é dividido em quatro movimentos sinfônicos, cada um composto de 25 trovas: ANDANTE MODERATO, ALLEGRO MA NON TROPO, ADÁGIO e ANDANTE MAESTOSO. Junto com a segunda trova, dir-lhe-ei mais sobre o livro e o PEDRO GIUSTI. 
Antonio Cabral Filho - Rj
*
TROVA Nº 1
Ainda que a minha trova
tenha esse travo de fel,
em boca de mulher nova
é doce que nem o mel.
***